quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Sociedade, o Indivíduo e a Educação que Temos e Queremos




O sistema educacional brasileiro está inserido no contexto do sistema global capitalista que atualmente se encontra em crise.
Para melhor entendermos tal crise e posteriormente tentar respondê-la é necessária a formação de um projeto político-pedagógico, ou melhor, um projeto de uma educação para a emancipação humana.
Para pensarmos em um projeto emancipatório, temos que analisar algumas questões: a sociedade, o indivíduo e a educação que temos e que queremos. De início fizemos um breve histórico da sociedade que temos, em seguida a perspectiva que temos; posteriormente uma reflexão do indivíduo que temos e que queremos e finalmente um apanhado histórico da educação que temos e sua perspectiva.
Analisamos a sociedade que temos a partir de um breve histórico. Na Comunidade Primitiva onde o modo de produção era comunal, tudo era feito em comum, não havia classes sociais; em seguida, os povos da Antiguidade e, posteriormente, a sociedade na Idade Média possuíam ainda algumas características da sociedade antiga. O meio dominante de produção era a terra e a forma econômica dominante era a agricultura.
As sociedades pré-modernas não possuíam consciência histórica, eram capazes de reproduzir-se por períodos extremamente longos, o trabalho não constituía uma esfera separada, existia inferioridade social e dependência.
Por fim, a sociedade moderna que contou com uma força destrutiva para seu progresso; foi a invenção das armas de fogo, ou seja, estavam sendo destruídas as formas pré-modernas, elementos fundamentais do capitalismo passaram a existir porque contaram com a economia militar e de armamento.
Para ganhar dinheiro as pessoas passaram a vender sua força de trabalho. Rompidas as relações naturais com base em laços de sangue em que a nobreza e a servidão eram passadas de pai para filho, na modernidade capitalista as relações passam a ser sociais. Inaugura a existência da crítica social: uma imanente ao sistema, e outra categorial. O capitalismo sem limites tinha como objetivo a transformação do dinheiro em dinheiro; o dinheiro é a encarnação do trabalho, ou melhor, o fundamento do sistema capitalista reside na produção do valor, a valorização do dinheiro.
Logo, o capitalismo com limites reduzia o tempo de trabalho ou continuava com o tempo de trabalho como medida de produção; desviava a aplicação do capital; surgia um novo caminho, mercado financeiro; uma grande parte não conseguia mais existir dentro das formas sociais capitalistas. Podemos lembrar que a crise se manifesta nos próprios países núcleo-capitalistas.
A necessidade de fazer um apanhado histórico da sociedade em que vivemos veio demonstrar claramente que chegamos a uma sociedade capitalista em crise, global-terminal-estrutural; tendo como objetivo enfocar elementos teóricos básicos e decisivos para entendermos melhor como podemos elaborar um projeto emancipatório, norteado pelos aspectos apresentados.
Nossa perspectiva em relação à sociedade é estarmos inseridos em uma sociedade mundial que não necessita mais de fronteiras, na qual todas as pessoas possam se deslocar livremente e existir em qualquer lugar o direito de permanência universal.
O homem moderno simplesmente não consegue imaginar uma vida além do trabalho. O homem adaptado ao trabalho, ou seja, a um padrão; está fazendo com que a qualidade específica do trabalho perca-se e torne-se indiferente.
O homem moderno não passa de mercadoria produzindo mercadoria e vendendo sua própria mercadoria. As mulheres tornam-se responsáveis pela sobrevivência em todos os níveis. Os homens tornam-se dependente de uma relação abstrata do sistema.
Como já mencionamos antes, a perspectiva que temos é a constituição de um sujeito como objetivo, capaz de construir uma sociedade igualitária, criativa, diversa, livre e prazerosa no ócio.
Na Comunidade Primitiva, relacionando-se com a terra, com a natureza entre si as pessoas se educavam e educavam as novas gerações; não havia escola. Na Antigüidade, com o aparecimento de uma classe social ociosa, surge uma educação diferenciada, surge a escola. Só tinham acesso à escola as classes sociais ociosas, a maioria que produzia continuava se educando no próprio processo de produção e da vida.
Na Idade Média, a maioria continuava se educando no próprio processo de produzir a sua existência e de seus senhores através das atividades consideradas indignas, a forma escolar da educação é ainda uma forma secundária.
É na sociedade moderna que se forma a idéia de educação para formar cidadãos, escolarização universal, gratuita e leiga, que deve ser estendida a todos; a escola passa a ser a forma predominante da educação.
De acordo com Enguita (1989), era preciso inventar algo melhor e inventou-se e reinventou-se a escola; criaram escolas onde não havia, reformaram-se as existentes e nelas introduziu-se a força toda a população infantil. A instituição e o processo escolar foram reorganizados de forma tal que as salas de aula se converteram no lugar apropriado para se acostumar às relações sociais do processo de produção capitalista, no espaço institucional adequado para preparar as crianças e os jovens para o trabalho.

Estrutura Social


Ao pensarmos no conceito de sociedade, é fundamental compreendermos algo intrínseco a ela: sua estrutura. Segundo Raymond Firth, em artigo publicado no livro Homem e Sociedade, organizado por Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni, considera-se uma estrutura social a ligação das partes que compõem o todo, “o arranjo no qual os elementos da vida social estão ligados” (IANNI, 1973, p. 35). Dessa forma, são relações que se sobrepõem e se interligam, e possuem certo grau de complexidade, não sendo momentâneas, mas sim possuindo certa constância e continuidade. De maneira mais direta, podemos afirmar que a estrutura social diz respeito à forma como a sociedade se organiza – assim como certas funções são necessárias para aquele grupo – , e à forma como estão dispostos os status (posições sociais) e papéis sociais, conforme privilégios e deveres.
Além disso, é possível afirmar que estrutura social tem a ver com a expectativa do comportamento entre os indivíduos, os quais assumem papéis sociais e possuem status sociais, fatos que nos permitiriam organizar nossas vidas enquanto atores sociais. Isso significa que há uma expectativa para o papel social exercido pelo pai, pela mãe, pelo filho, pelo professor, pelo policial, enfim, por todos aqueles que estão na sociedade e interagem o tempo todo através das relações sociais. Mais do que isso, se pensarmos apenas no papel do professor, ao mesmo tempo em que há uma expectativa de seus alunos em relação a seu papel, ele também espera um comportamento de seus alunos, assim como de seus superiores, entre outros.
Mais especificamente, “o conceito de estrutura social é um recurso analítico que serve para compreender como os homens se comportam socialmente” (ibidem, p. 36). Precisamos considerar que se as expectativas das normas sociais são importantes, por outro lado, essas mesmas normas podem ser alteradas pelos atores sociais em seu cotidiano. Isso significa que os papéis sociais podem mudar. Se aqueles tipos de relações sociais que caracterizam uma sociedade não existissem, consequentemente aquela sociedade não seria a mesma. Uma sociedade rural, como aquela que predominava no feudalismo, tinha relações peculiares. Com as transformações econômicas e políticas ocorridas com o despontar da sociedade industrial, o campo também mudou.
Outro ponto importante é pensar que vários aspectos fazem parte da estrutura social, dentre eles as relações de parentesco, uma vez que dizem respeito às relações sociais propriamente ditas. Grosso modo, as relações de parentesco são marcadas por um modelo de relação familiar, modelo esse que marca um padrão de funcionamento da família, importante instituição social que exerce sua função na vida social.
Dessa forma, para se pensar em estrutura social, também devemos considerar a ideia de função social, a qual diz respeito à relação entre uma ação social e o sistema no qual essa ação está inserida. Em outras palavras, a função social é dada pelo resultado (consequência ou expectativa) da ação de um indivíduo (comportamento) em relação às outras pessoas que fazem parte de uma sociedade. Assim, as ações possuem funções sociais dentro de uma estrutura social. As funções sociais servem para atender às necessidades do homem que vive em sociedade (para além das biológicas). A função social do casamento seria formar uma família e, dessa forma, reproduzir os homens.  Outro exemplo importante seria pensarmos na função social da proibição do incesto.
Não podemos pensar apenas nas funções sociais das ações dos homens, mas também na função social que determinados costumes ou práticas possuem dentro da sociedade. Há um sistema de interações que garante a estrutura social, no qual cada ação social, cada prática, cada costume, assume uma função. Por exemplo, as festas possuem uma função social, pois não se trata de apenas reunir pessoas, mas que essa reunião celebre ou tenha certa finalidade e sentido. A estrutura social seria marcada não apenas pelas ações dos homens, mas também pelas chamadas instituições – como o exemplo citado da família – considerando-se que “a instituição é o conjunto de valores e princípios estabelecidos tradicionalmente” (ibidem, p. 39).


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Grupos Sociais

Uma tendência natural do ser humano é a de procurar uma identificação em alguém ou em alguma coisa. Quando uma pessoa se identifica com outra e passa a estabelecer um vínculo social com ela, ocorre uma associação humana. Com o estabelecimento de muitas associações humanas, o ser humano passou a estabelecer verdadeiros grupos sociais.

Podemos definir que grupo social é uma forma básica de associação humana que se considera como um todo, com tradições morais e materiais. Para que exista um grupo social é necessário que haja uma interação entre seus participantes. Um grupo de pessoas que só apresenta uma serialidade entre si, como em uma fila de cinema, por exemplo, não pode ser considerado como grupo social, visto que estas pessoas não interagem entre si.

Os grupos sociais possuem uma forma de organização, mesmo que subjetiva. Outra característica é que estes grupos são superiores e exteriores ao indivíduo, assim, se uma pessoa sair de um grupo, provavelmente ele não irá acabar. Os membros de um grupo também possuem uma consciência grupal (“nós” ao invés do “eu”), certos valores, princípios e objetivos em comum.

Os grupos sociais se diferem quanto ao grau de contato de seus membros. Os grupos primários são aqueles em que os membros possuem contatos primários, mais íntimos. Exemplos: família, grupos de amigos, vizinhos, etc.

Diferentemente dos grupos primários, os secundários são aqueles em que os membros não possuem tamanho grau de proximidade. Exemplos: igrejas, partidos políticos, etc. Outro tipo de grupos sociais são os intermediários, que apresentam as duas formas de contato: primário e secundário. Exemplo: escola.

domingo, 28 de agosto de 2011

O que é política para sociologia ?

A sociologia estuda a política como o estudo dos fenômenos políticos enquanto fenômenos sociais, preocupando-se fundamentalmente com os micropoderes; a ciência política como o estudo dos fenómenos políticos superiores, preocupando-se, sobretudo, em integrar os poderes no Poder. A ciência política contemporânea nascendo do impulso do sociologismo, e como reação contra o normativismo e contra a análise formal das instituições políticas.  As escolas elitistas e as escolas pluralistas de sociologia política. Da teoria da classe política, por oposição à teoria da divisão de poderes, ao estudo da poliarquia.

RELAÇÕES SOCIAS


Para Karl Marx, as relações sociais que os homens estabelecem entre si, e que constituem a sua existência social, decorrem das forças produtivas e dos modos de apropriação dos meios de produção. "As relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas. Ao adquirir novas forças produtivas, os homens mudam o seu modo de produção e ao mudar o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, alteram todas as suas relações sociais" (Rocher). A História mostra-nos que a um determinado estádio do desenvolvimento das forças produtivas corresponde um tipo determinado de "relações de produção", que são o conjunto de relações estabelecidas pelos homens com vista à produção. Os homens, para produzir, "estabelecem uns com os outros laços e relações bem determinadas (segundo Marx, necessárias e independentes da sua vontade): o seu contacto com a Natureza, isto é, a produção, só se efetua no quadro destes laços e destas relações sociais. Estas relações sociais que ligam os produtores uns aos outros [...] diferem naturalmente segundo o carácter dos meios de produção. [...] Isto equivale a dizer que as relações sociais segundo as quais os indivíduos produzem, as relações de produção, se alteram e se transformam com a evolução e o desenvolvimento dos meios materiais de produção, das forças produtivas. As relações de produção, consideradas na sua totalidade, constituem aquilo a que chamam as relações sociais" (Rocher).
Por seu lado, Ferdinand Tönnies empreende "a análise dos fundamentos psíquicos das relações sociais (rapports sociaux), que constituem o tecido de toda a coletividade. Estas relações sociais são, para Tönnies, relações entre "vontades" humanas [...] conjunto de mecanismos que motivam e orientam a conduta dos homens em relação uns aos outros" (Rocher). Esta vontade apresenta-se sob duas formas: por um lado, a vontade orgânica, que é do domínio do concreto orgânico e afetivo, traduz os impulsos do coração; por outro, a vontade refletida, que é do domínio puramente intelectual e abstrato, é dominada pelo pensamento. Os dois tipos de vontade opõem também, respetivamente, dois tipos de relações sociais entre os homens: a "comunidade" e a "sociedade". A primeira é formada por pessoas unidas por laços naturais e espontâneos e por objetivos comuns que ultrapassam os interesses particulares dos indivíduos. Na "sociedade", as relações entre as pessoas estabelecem-se na base dos interesses individuais, são relações de competição, de concorrência, com um cunho de indiferença relativamente aos outros.
Para Émile Durkheim, as relações sociais constituem o tema central do seu livro De la division du travail social (1893) e surgem com o nome de "formas de solidariedade". Durkheim nota que as pessoas podem sentir-se atraídas umas pelas outras pelas suas semelhanças ou pelas suas diferenças. "A atração e a interdependência entre as pessoas pode estabelecer-se por forma a que estas se movam em bloco, como um só corpo, e a esse tipo de solidariedade chama Durkheim mecânica. Esta solidariedade assenta no predomínio das crenças e dos sentimentos comuns a todos os membros do grupo sobre o individual" (Barata). A solidariedade mecânica corresponde, necessariamente, a um estado forte da consciência coletiva.
E "é o progresso da divisão do trabalho que conduzirá a sociedade de solidariedade mecânica a transformar-se. O próprio princípio de divisão do trabalho está na diversidade das pessoas e dos grupos e é diretamente contrário ao da solidariedade por semelhança [...]. A divisão do trabalho engendra afinal um novo tipo de solidariedade baseado na complementaridade das partes diversificadas [...]. E porque esta solidariedade já não é baseada na semelhança das pessoas e dos grupos, mas na sua independência, Durkheim dá-lhe o nome de solidariedade orgânica". Esta é consequente ao progresso da divisão do trabalho (Rocher).
"Durkheim constrói assim o que ele chama "dois tipos sociais" [...]. A sociedade de solidariedade mecânica é uma sociedade primitiva, como a sociedade militar" (Rocher) (em que os elementos componentes não estão dispostos ou organizados de nenhuma maneira definida); "nela a divisão do trabalho é apenas elementar ou está fracamente desenvolvida. A forte pressão que nela se observa provém [...] de uma consciência coletiva forte resultante da semelhança das partes constituintes e que se reflete num direito com predominância repressiva ou penal" (Rocher). "Pelo contrário, a solidariedade orgânica exprime-se numa estrutura social que é um sistema de órgãos diferentes, com funções individualizadas [...]. As pessoas agrupam-se não a partir de laços de descendência, mas segundo as funções sociais que desempenham" (Barata). "A sociedade de solidariedade orgânica é, como a sociedade industrial, uma sociedade mais avançada, devido à divisão do trabalho" (Rocher). A ela corresponde um direito dito restitutivo, cuja finalidade não é punir mas repor as coisas no estado em que estavam quando foram alteradas.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sociologia da Juventude


Ao longo da História da Cultura Ocidental, a participação dos jovens era desconsiderada nos movimentos e transformações sociais ocorridas ao longo do tempo. A “voz da juventude” foi por muito tempo reclusa aos olhos de uma sociedade conservadora que, na maioria das vezes, ligava o jovem à imaturidade, ignorância e subserviência familiar. No entanto, a partir da segunda metade do século XX, esse cenário começou a sofrer consideráveis transformações. 

A partir da década  de 1960, intensas  manifestações  culturais e políticas juvenis indicavam  que o papel do jovem começava a ter outro lugar. Nesse período, podemos destacar a ação do movimento hippie , que  se contrapôs aos valores morais de sua época pregando ideais de “paz e amor”, criticando a sociedade de consumo e realizando intensa oposição à Guerra do Vietnã. Embalados pelo prazer, o uso de alucinógenos e o rock’n’roll mostraram o novo lugar da juventude. Com o esvaziamento desse primeiro movimento, a geração hippie deu lugar a uma juventude mais conservadora que não mais se simpatizava com a ação transgressora da geração anterior. Os chamados yuppies da década de 1980, mediante a expansão do capitalismo e a competitividade do mercado de trabalho, começaram a estudar cada vez mais cedo, buscando uma carreira profissional proeminente acompanhada do tão sonhado conforto material. A consolidação de um mundo cada vez mais integrado pelo processo de globalização provocou uma nova onda de movimentos juvenis que se colocam contra a própria sociedade que o exclui. O movimento punk é um claro exemplo de ação juvenil calcada pela crítica de um sistema que visa padronizar comportamentos em torno de um mundo cada vez mais atrelado aos resultados imediatos e à eficiência. Em contrapartida, essa reação à globalização também trouxe outras conseqüências. A juventude nascida na década de 1980 integra, de acordo com alguns estudiosos e analistas, a chamada geração “Z”. O uso desta letra vem do termo inglês “zapping”, ou seja, dar “uma volta”. Essa tal volta, por conseguinte, simboliza a enxurrada de tecnologias que colocaram esses jovens em contato simultâneo com a TV, telefone celular e internet. A facilidade de acesso à informação transforma essa nova geração, de carta maneira, um pouco mais acomodada.Em contrapartida, essa nova situação da juventude não indica uma morte das utopias e da ação direta do jovem na sociedade. Por mais que não possamos ver claramente a ascendência de novos movimentos juvenis politizados, não podemos desconsiderar a presença de uma juventude que possui e demonstra suas demandas sob as mais diferentes formas. Enquanto isso, as gerações futuras nos reservam a transformação que os adultos de amanhã talvez não imaginassem.